Criando uma atmosfera baseada em valores
Sentindo-se amado, valorizado, respeitado, compreendido e seguro.
Uma vez que os valores têm que ser “descobertos” assim como “ensinados”, os adultos envolvidos são parte integrante para o sucesso do programa, já que os jovens aprendem melhor através de exemplos e são mais receptivos quando o que é compartilhado é experimentado. O estabelecimento de uma atmosfera baseada em valores é essencial para a exploração e o desenvolvimento ideais. Esse tipo de ambiente centrado no aluno naturalmente reforça o aprendizado, assim como relacionamentos baseados em confiança, cuidado e respeito têm um efeito positivo na motivação, criatividade e desenvolvimento afetivo e cognitivo.
Criar uma “atmosfera baseada em valores” é o primeiro passo no Modelo de Desenvolvimento de Valores do VIVE. Durante os workshops do VIVE, pede-se aos professores que conversem sobre métodos de ensino de qualidade que permitam aos alunos sentirem-se amados, respeitados, valorizados, compreendidos e seguros.
O Modelo Teórico do VIVE pressupõe que os alunos avancem em direção ao seu potencial, em ambientes de aprendizagem acolhedores, atenciosos e criativos. Quando motivação e controle estão ligados a medo, vergonha e punição, os jovens sentem-se mais inadequados, temerosos, magoados, envergonhados e inseguros. Além disso, evidências sugerem que repetidas interações carregadas com essas emoções marginalizam os estudantes, diminuindo o interesse real em frequentar a escola e/ou em aprender. Estudantes com uma série de relacionamentos escolares negativos estão sujeitos a se “desligarem”. Alguns se tornam depressivos enquanto outros entram em um ciclo de acusação, ódio e vingança – e possível violência.
Por que estes cinco sentimentos – amor, valorização, respeito, compreensão e segurança – foram escolhidos pelo Modelo Teórico do VIVE? O tema AMOR raramente é explorado em seminários educacionais. No entanto, não é amor e respeito que nós todos queremos como seres humanos? Quem não quer ser valorizado, compreendido e sentir-se seguro? Muitos estudos sobre resiliência têm reforçado a importância da qualidade dos relacionamentos entre jovens e adultos significativos em suas vidas, frequentemente professores.
O que acontece com o processo de aprendizagem quando nos sentimos amados, valorizados e respeitados? O que acontece em nossas relações com educadores que criam um ambiente de apoio e segurança na sala de aula? Muitas pessoas tiveram a experiência quando crianças de um educador que eles acharam positivo, encorajador e motivador. Ao contrário, o que nós sentimos quando um educador, na escola ou em casa, é crítico, punitivo e estressado ou quando os colegas são provocativos? Estímulo positivos melhoram o processo criativo, mas ansiedade elevada, críticas, pressão e métodos punitivos atrasam o processo de aprendizagem. O pensamento de que outros podem criticar ou não gostar pode desviar alguém de uma tarefa. Neurologistas encontraram efeitos positivos no desenvolvimento do cérebro quando uma criança é acolhida e efeitos deteriorantes quando existem experiências traumáticas. Lumsden (1994) em suas pesquisas percebeu que um ambiente escolar atencioso e acolhedor aumenta a motivação dos estudantes, isto é, o interesse de participar do processo de aprendizagem. E eficácia acadêmica aumenta também. Um ambiente escolar atencioso e acolhedor também pode reduzir comportamentos violentos e criar atitudes positivas de aprendizagem.
Atualmente na educação em muitos países existe pressão para que os professores aumentem o nível de êxito dos estudantes. Pressão constante e ênfase na memorização e em notas de testes reduzem o ensinamento “real” assim como desviam professores do foco nas relações de acolhimento com os alunos. São também danosas aos níveis de motivação e à atmosfera em sala de aula. Muito do prazer relacionado a ensinar bem é perdido. Kohn (1998) escreve: “Defeitos fatais no movimento do rolo compressor em direção a padrões sólidos que superenfatizam resultados no custo de aprender”. Ele argumenta que a maioria do que os especialistas estão defendendo traz uma ideia errada de aprendizado e motivação e que quanto mais duramente as pessoas forçam outras a aprender, mais elas limitam esta possibilidade. Ocorre o aprendizado verdadeiro em uma atmosfera baseada em valores.
Os resultados automaticamente melhoram conforme o aprendizado verdadeiro aumenta. O aprendizado real e a motivação se tornam presentes em atmosferas baseadas em valores, pois nelas os educadores são livres para estar em harmonia com seus valores, modelar o seu amor em ensinar, ter capacidade de envolver os alunos e desenvolver habilidades cognitivas. Isso não é dizer que sempre ocorrerá uma aprendizagem excelente quando há uma atmosfera baseada em valores. Um educador de valores deve ser também um bom professor.
Como Lovat e Toomey (2006) concluem de suas pesquisas, educação de valores tem sido cada vez mais vista como tendo um poder além da moral limitada ou de uma pauta para a cidadania. Tem sido vista no centro de tudo o que um professor e uma escola comprometidos podem alcançar através do ensino. E isso pode ser descrito como o “elo perdido” na qualidade do professor e na qualidade do ensino.
Ensinando os valores a partir de dentro
Nos workshops do VIVE, pede-se aos educadores para refletir sobre os valores em suas próprias vidas e identificar quais são mais importantes para eles. Em uma outra sessão, pede-se a eles para que compartilhem métodos de ensino de qualidade que eles possam usar para criar o clima desejado em sala de aula.
Ser o modelo dos valores é um elemento essencial. Os estudantes estão interessados em educadores que têm uma paixão por fazer alguma coisa positiva no mundo e que incorporam os valores que eles expõem. Eles costumam rejeitar a educação de valores se eles sentirem que os professores não estão fazendo aquilo que falam. Os educadores do VIVE têm histórias maravilhosas de adolescentes e pré-adolescentes nervosos e cínicos que mudaram quando conseguiram se prender aos seus valores em circunstâncias desafiadoras.
Ensinar valores requer dos educadores um desejo de ser um modelo de comportamento e uma crença na dignidade e respeito por tudo. Isso não quer dizer que temos que ser perfeitos para ensinar o VIVE, entretanto isso demanda um comprometimento pessoal de “viver” os valores que queremos ver em outros e um desejo de ser atencioso, respeitoso e não violento.
Habilidades para se criar uma atmosfera baseada em valores
O modelo teórico e a sessão de workshop VIVE sobre “reconhecimento, encorajamento e construção de comportamentos positivos” combinam os ensinamentos de gerenciamento com uma abordagem humanizada, isto é, entendendo que é amor e respeito que nós queremos como seres humanos.
Mostrar interesse e respeitar os estudantes ao apontar características relevantes ao longo do tempo são ferramentas para construir as habilidades dos estudantes para analisar seus próprios comportamentos e habilidades acadêmicas e desenvolver autoavaliação positiva e motivação intrínseca. Nesta abordagem, existe um foco nos relacionamentos humanos e sensibilidade no nível de receptividade e das necessidades dos estudantes.
Entre as habilidades para criar uma atmosfera baseada em valores também estão: escuta ativa; construção de regras colaborativas; sinais silenciosos que criam silêncio, foco, sentimentos de paz ou respeito; resolução de conflitos e uma disciplina baseada em valores. A escuta ativa é útil como um método de reconhecimento com estudantes resistentes, cínicos ou “negativos”. A escuta ativa é uma ferramenta indispensável para professores. O entendimento de Thomas Gordon da raiva como uma emoção secundária é um conceito útil para educadores para lidar com estudantes resistentes.
A construção de regras colaborativas é um método para aumentar a participação e a apropriação do estudante no processo de criação de regras. Muitos educadores descobriram que quando os estudantes estão envolvidos no processo de criar, eles são mais observadores, envolvidos e desejam ser mais responsáveis em monitorar seus próprios comportamentos e encorajarem comportamentos positivos em seus colegas.
A capacitação VIVE para uma disciplina baseada em valores também combina as teorias de gerenciamento de contingência com um entendimento humanístico por parte dos estudantes e a crença na importância de relacionamentos saudáveis e bem-estar. Algumas pessoas usam o método de gerenciamento de contingência como se o jovem fosse uma máquina; a necessidade de sentir-se aceito e valorizado como uma pessoa – por professores e ou colegas – não é levada em conta no plano comportamental. Quando necessidades sociais e comportamentais são consideradas como parte do plano de intervenção, os resultados são mais bem-sucedidos.
Os educadores podem usar o modelo teórico VIVE para avaliar os fatores positivos e negativos que afetam um estudante, uma sala de aula, uma escola ou uma organização, e ajustar os fatores para otimizar a experiência dos jovens de serem amados, valorizados, respeitados, compreendidos e seguros ao invés de envergonhados, inadequados, magoados, amedrontados e inseguros. Na resolução de conflitos ou ajustes disciplinares, a ênfase está em criar um plano que apoie a construção de um comportamento positivo do estudante. Os educadores focam em lidar com os estudantes de tal forma que ela ou ele sinta-se motivado a ser responsável por ajustar seu próprio comportamento. Existem momentos em que os estudantes mantêm-se em uma atitude negativa e consequências lógicas são necessárias; durante o período em que aquela consequência é paga é recomendado que o estudante não seja tratado como uma “pessoa má”. Apesar de que algumas vezes um educador possa achar que é melhor ser firme, sério ou até severo, buscam-se oportunidades para construir a habilidade do jovem de monitorar-se e construir relacionamentos enquanto as consequências estão acontecendo. Isso se refere ao trabalho de Virgínia Satir: “Pessoas cheias de amor e bem-estar são mais positivas em suas interações e comportamentos”.
Workshops VIVE
A criação de uma atmosfera baseada em valores facilita o sucesso com jovens, tornando o processo mais agradável, benéfico e efetivo para ambos, estudantes e professores. É altamente recomendada, sempre que possível, a capacitação VIVE de educadores e facilitadores para todos os membros da escola ou todos os funcionários de uma organização. Dependendo da população estudantil, são apropriadas capacitações para o uso de materiais do VIVE para crianças em situação de risco.
Referências
LUMSDEN, L.S. Student Motivation to Learn. Educational Resources. Information Center, Digest Number 92, 1994.
KHON, A. Punidos pelas recompensas: os problemas causados por prêmios de produtividade. São Paulo, 1998.
LOVAT, T; TOOMEY, R. Values Education and Quality Teaching. Springer Netherlands, 2006.
SATIR, V. Contatos com Tato. Gente, São Paulo, 2000.
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